O dia da mulher já passou. Apesar de eu não ser grandes apreciadora de um dia deste género, quero postar o seguinte artigo, que marca o progresso de conquista nas mulheres:
Kathryn Bigelow consagrou-se mesmo como a primeira mulher a vencer um Óscar para Melhor Realizador na história de Hollywood.
Bem mais do que apenas a “ex-mulher de James Cameron”, ela é uma autora com uma carreira de peso e um cinema cheio de personagens que vivem no limite, em mundos violentos, vidas cheias de adrenalina.
Nascida em 1951 numa zona rural da California, Kathy mudou-se para Nova Iorque para aprender pintura e belas artes, seguindo um sonho não concretizado do seu pai. Na ‘Grande Maçã’, acaba por apaixonar-se pelo cinema mais másculo e violento através de títulos como "Mean Streets" e "The Wild Bunch".
Terminado o seu mestrado em cinema na Universidade de Columbia, cria a curta-metragem “The Set Up” em 1978, uma proposta pretensiosa e artística sobre a violência masculina mas que lhe abre as portas para fazer o seu primeiro filme. “The Loveless”, de 1982, veio na onda de filmes como “Easy Rider” e “Mad Max” mas revelava já uma Bigelow interessada em vidas perigosas e violentas: o estreante Willem Dafoe (!) interpreta aqui o líder de um gang de motoqueiros que espalham o terror no seu caminho para ver as corridas de Daytona.
Após cinco anos e muitos projectos encravados, a realizadora dá o salto para Hollywood com “Near Dark”, de 1987. Este “western” de vampiros nasce através da combinação de interesses narrativos díspares. O distribuidor queria aproveitar a onda de filmes de terror e de vampiros, Kathryn tinha um argumento de um “western” bem à John Ford. Para conseguir fazer o seu filme, a realizadora sugeriu adaptar o seu guião ao mundo dos vampiros e criar este híbrido.
“Near Dark” teve críticas muito boas mas não encontrou o seu público, apesar de ser visto nos dias de hoje como um precursor da abordagem ao mito dos vampiros vista em obras recentes como “Twilight” de Stephanie Myers. É por este filme que conhece também James Cameron, através dos actores Bill Paxton e Lance Henricksen (presentes em “Aliens” de Cameron e em “Near Dark”).
Kat e Cameron casam-se em 1989 mas divorciam-se dois anos mais tarde. No entanto, a amizade e a colaboração profissional ficam. Cameron produz e Bigelow realiza em 1990 "Blue Steel" (“Aço Azul”), um thriller “noir” com Jammie Lee Curtis e Ron Silver (que faleceu em 2009 e foi homenageado na elogia dos Óscares). Ao terceiro filme, Kat volta a não encontrar o público e a falhar o sucesso comercial.
Tudo isto viria a mudar em 1991 com “Point Break” (“Ruptura Explosiva”), um thriller policial que marcou uma geração. O filme seguia um polícia interpretado Keanu Reeves que se infiltra num gang de assaltantes de bancos liderados por Patrick Swayze (também falecido em 2009 e homenageado pela Academia), os quais são apaixonados por surf.
O projecto era para ser realizado por Ridley Scott (“Alien”, “Blade Runner”), mas este acabou por sair, à última hora, para fazer “Thelma & Louise”. O produtor James Cameron contratou Kathryn Bigelow para substituir, considerando que este filme de acção sobre a amizade de dois homens precisava de uma abordagem feminina. “Point Break” foi um sucesso crítico mas acima de tudo junto do público, conquistando 83.5 milhões de dólares no mundo todo e tornando-se um clássico do cinema de acção.
Aproveitando o sucesso, Kathryn Bigelow consegue o contrato para o seu filme mais ambicioso até à data: “Strange Days” (“Estranhos Prazeres”) em 1995, um thriller de ficção científica passado nas vésperas do novo Milénio, e onde as personagens de Ralph Fienns e Angela Bassett (em performances memoráveis) tentam desmascarar uma conspiração terrível numa decadente Los Angeles.
Esta produção de James Cameron para a Fox foi um sucesso junto da crítica mas enorme “flop”. O péssimo resultado comercial fez com que a carreira de Bigelow andasse para trás e ela demorasse cinco anos até conseguir avançar com um novo projecto, tendo-se dedicado à televisão, no entretanto.
Em 2002, fez "The Weight of the Water", uma adaptação do livro de Anita protagonizada por Sean Penn. A distribuidora Lions Gate não gostou nada do filme de Bigelow e demorou dois anos até o distribuir. É o seu filme mais “esquecido”.
Com dois fracassos consecutivos, a realizadora aceita um projecto caro (100 milhões de orçamento) mas que poderia mudar a sua carreira: "K-19 The Windowmaker" ( “O Submarino”), um thriller de Guerra Fria passado num submarino com Harrison Ford no principal papel. Ao fracasso comercial juntou-se também a má reacção da crítica, e o projecto ficou conhecido como "K-19 The Carreer Tanker" ("Afundador de Carreiras").
Descredibilizada em Hollywood, Bigelow voltou a trabalhar em televisão mas foi um mal que veio por bem. Um dos seus trabalhos foi um episódio para a série de TV "The Inside", em 2005, uma série documental onde adaptou um artigo do repórter de guerra Mark Boal.
Com um orçamento mais modesto que dos seus filmes anteriores (11 milhões) e um grande espírito de aventura, Kathryn Bigelow junta-se a Mark Boal para fazer “The Hurt Locker”, um filme de guerra baseado num popular artigo do jornalista. Filmado na Jordânia, o filme segue uma equipa de desarmamento de minas no Iraque.
O resto da história já conhecemos. “The Hurt Locker” passou despercebido na sua exibição comercial (16 milhões) mas conquistou a crítica e passou a recta final de 2009 a ser aclamado como o filme do ano. Venceu dos BAFTA ao Festival de Veneza, passando pelo Director’s Guild e o Writer’s Guild of America. Venceu prémios das associações de críticos de Los Angeles, Nova Iorque, Chicago e Las Vegas, entre outros. E ainda nomeações nos Globos de Ouro e nos Independent Spirit Awards. E claro está, os 6 Óscares incluindo Melhor Filme e Melhor Realizadora.
Kathryn Bigelow consagrou finalmente uma carreira com muitos altos críticos e muitos baixos comerciais, dominada por uma cinematografia consistente e de qualidade.
José Pedro Lopes
2 comentários:
Uma mulher e peras... embora eu prefira maçãs.
Beijo
:D
Enviar um comentário