A sociedade tende a tecer teorias sobre o envolvimento dos jovens na política. Porque é que isso é importante? Por causa da tão célebre frase “os jovens são o futuro”. Quando somos mais novos, ouvimos os nossos pais conversarem sobre muitos assuntos. A maior parte das vezes que queremos saber do que se trata a resposta imediata é “Ainda és muito novo para saber.” Provavelmente é o que se passa relativamente à política. Quando se integra o Ensino Básico e o Ensino Secundário “chovem” iniciativas, que no fundo têm a ver com a política, em que grande parte dos jovens adere com entusiasmo. O “Hemiciclo – jogo da cidadania” que agora se chama “Parlamento dos Jovens” é uma das iniciativas mais ricas e mais estimulantes que os jovens do Ensino Secundário têm para potencializar o seu carácter político. Neste programa os jovens podem debater ideias que promovem a cidadania. As Associações de Estudantes são mais um elo de ligação à política. Desenganem-se aqueles que pensam que estas iniciativas se destinam única e exclusivamente aos alunos de excelência. Apesar de ser visível que são estes os mais procurados vivemos num mundo que necessita, cada vez mais de prática e não de teoria porque “palavras, leva-as os vento”.
Se há tantas iniciativas, porque é que se continua a dizer que os jovens não se interessam pela política? As iniciativas que foram referidas tocam os jovens porque dizem respeito ao seu mundo, às suas ideias, ao seu modo de vida. Mas depois, na vida real sente-se que aquela política, aqueles discursos não são para nós, não dizem respeito à nossa vida. Quantas vezes não ouvimos algo por parte de um político que nos fez rir, que nos fez pensar “Mas em que mundo é que ele vive?”. A verdade é que os tempos são outros e os jovens de ontem, não são os jovens de hoje. Foram os jovens de ontem que tornaram o círculo político o que ele é, mas os jovens de hoje não sentem que esse círculo seja para eles.
Os partidos são as ideias de alguém e esse alguém arranjou seguidores. Os jovens de hoje não se limitam a escolher duas ideias e deixar que o resto se resolva. Os jovens do hoje escolhem pessoas, escolhem vida e não um símbolo e alguns papéis. É natural que a política se tenha desenvolvido desta maneira. Há uns tempos foi mesmo necessária toda esta complexidade. Mas a política não pode parar no tempo e por isso a maior parte dos jovens desliga-se.
Por isso a juventude pouco se interessa, uns porque esperam a sua altura de agir, outros porque as asas lhe foram cortadas. Mas ainda há quem se interesse, ainda há quem, no meio de todo este círculo, acredite que pode mudar algo, que pode fazer algo pelo país. Veja-se, por exemplo no dia de eleições: quem está nas mesas de voto? Antigamente eram pessoas mais velhas, hoje já se vêem muitos jovens. Isto porque, apesar de não se manifestarem, eles existem e apenas necessitam do momento certo para se fazer ouvir.
Quando somos jovens temos um mundo ideal na nossa cabeça, queremos fazer tudo, mudar tudo e essa energia deve ser aproveitada. O problema é: “Como?”. Talvez seja um problema de educação. Os mais velhos dirão sempre que “ainda tu não eras nascido e eu já…”. É assim as asas da juventude vão sendo cortadas. Não se pode dizer a um jovem que ele não é capaz porque assim ele não é mesmo capaz. Mas se ele acreditar e se ele quiser, tudo há-de conseguir fazer!
Naturalmente toda esta realidade acaba por se reflectir nas eleições. Já que toda a gente fala disso: porque tanta abstenção? É simples: quando sentimos que não é nada connosco, que nada fará a diferença, como é que se pode esperar haja interesse?
Sim, tudo soa a crítica. Mas é isto que os jovens são: críticos. Num mundo que supostamente é para eles, mas que não é deles.
Ana Noro, in revista Mundo Rural nº 538, pág. 10